Santa Hildegarda de Bingen O.S.B., (1098 – 1179), chamada "a Sibila do Reno" |
Luis Dufaur Escritor, jornalista, conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
“Nasceu no Condado de Spanhein, Diocese de Maicus, no ano de 1098, de pais nobres e virtuosos. Com a idade de oito anos, foi levada ao Mosteiro de Disimberg, ou do monte de Santo Disibode, e colocada sob a direção da bem-aventurada Jutta Hurclitt, irmã do conde de Spanhein.
“Dos 8 anos aos 15, viu sobrenaturalmente muitas coisas, das quais falava com simplicidade com suas companheiras, que ficavam maravilhadas, assim como todos que disso tiveram conhecimento. Indagavam qual poderia ser a origem das visões.
“A própria Hildegarda observou surpresa, enquanto via interiormente na sua alma, ao mesmo tempo enxergava as coisas exteriores com os olhos do corpo como de costume, o que jamais ouvira dizer houvesse acontecido a qualquer outra pessoa.
“Desde então, presa de temor, não ousou mais entreter-se com pessoa alguma sobre sua luz interior.
“Contudo, acontecia nas suas conversas referir-se a coisas ainda por suceder, e que pareciam estranhas aos ouvintes. Esse estado de intuição sobrenatural perdurou durante toda a vida.
“Tinha 40 anos quando ouviu uma voz do Céu ordenar-lhe que escrevesse tudo quanto visse. Resistiu durante muito tempo, não por obstinação, mas por humildade e desconfiança.“Aos 42 anos e 7 meses, viu o Céu abrir-se e uma chama muito luminosa penetrou-lhe na cabeça, no coração, em todo seu peito sem queimá-la, mas aquecendo-a suavemente.
Visão de Santa Hildegarda
“No mesmo momento, recebeu inteligência dos Salmos, dos Evangelhos e dos outros livros do Antigo e do Novo Testamento, de maneira a poder explicar-lhes o sentido, embora não conseguisse explicar gramaticalmente as palavras, pois não conhecia latim nem a gramática.
“Como perseverasse e recusasse a escrever, mais por temor do que por desobediência, caiu doente. Enfim, confiou sua preocupação a um religioso, seu diretor, e por intermédio dele, enviou-os à Congregação.
“Depois de aconselhar-se com os membros mais sábios da comunidade, e de interrogar Hildegarda, o Prior ordenou-lhe que escrevesse, o que ela fez pela primeira vez. Imediatamente se viu curada e levantou-se da cama.
“Essa cura pareceu tão milagrosa ao prior, que não quis confiar apenas no seu critério. Foi contar o que sabia ao Arcebispo e às mais altas figuras do clero, e mostrou-lhes os escritos de Hildegarda. Isso deu motivo a que o Arcebispo consultasse o próprio Papa.
“Desejando Eugênio III ficar a par daquele prodígio, enviou ao mosteiro de Hildegarda, Alberon, Bispo de Verdum. Hildegarda respondeu com muita singeleza às perguntas que lhe foram feitas.
“Tendo o Bispo apresentado seu relatório, o papa mandou que lhe trouxesse os escritos de Hildegarda, e tomando-os nas mãos, leu-os em voz alta na presença do Arcebispo, dos Cardeais e de todo o clero.
“Também contou tudo quanto fora relatado pelos emissários, por ele enviados, e todos os assistentes renderam graças a Deus.“São Bernardo estava presente e também deu testemunho do que sabia sobre a santa mulher, que ele visitara quando estivera em Granfort, e escreveu que a felicitara pela graça por ela recebida, exortando-a a permanecer fiel à mesma, pediu pois ao papa, no que foi secundado por todos os presentes, que divulgasse tão grande graça concedida por Deus à Igreja no seu pontificado, e a confirmasse com sua autoridade.
Sãon Bernardo de Claraval estava com o Papa quando a profecia foi lida
“O papa seguiu o conselho, escreveu a Hildegarda recomendando-lhe que conservasse pela humildade, a graça por ela recebida, e relatasse com frequência tudo que lhe fosse revelado por intermédio do Espírito.
“A santa relatou ao Papa Eugênio, em carta bastante longa, tudo quanto ouvira da voz celeste relativamente ao pontífice. Anunciava uma época difícil, cujos primeiros sinais já se manifestavam:
“Os vales queixam-se das montanhas, as montanhas tombam sobre os vales, isto porque os súditos não mais sentem temor de Deus, estão como que impacientes para subir aos cumes das montanhas, para acusarem os prelados, invés de acusarem os próprios pecados.
“Dizem: sou mais adequado do que eles para superior. Denigrem tudo [o que] os superiores fazem, por inveja e por ódio à superioridade.
“Assemelham-se a um insensato que, ao invés de limpar suas roupas sujas, nada mais faz a não ser observar de que cor é a roupa do próximo.”