Sultão: Tranquilo, sim... o deve estar, e com sobrada razão, quem não tem coração, ou como o teu, que é de neve!
De grande ruindade se necessita – disse ruindade?, de covardia! – para vir neste dia falar de uma Cruz bendita, de um Deus que será um qualquer, e que na verdade e não gracejando, será um criado de Maomé dos de mais baixa extração.
São Fernando: Ímpio, cala esses lábios!
Sultão: Cristão, não alces o grito, pois para um lenho e um mito não há ofensa nem agravos. Seu valor é tão minguado e tão mesquinho seu preço, que só com meu desprezo considero-o muito bem pago.
Já verás, grande General, dentro de breves momentos, essas cruzes e esses contos aonde vão parar.
Já verás o fim que têm teus orgulhos altaneiros e esses míseros guerreiros que lutar contra mim vêm. Sangue, lodo e confusão ficarão apenas deles antes que o Sol seus resplendores retire desta mansão.
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Caravaca de la Cruz: confraria de mouros. |
E ao golpe dos cutelos de minhas hostes agarenas [descendentes de Agar] cobrirão estas arenas os corpos dessas falanges, e uma por uma cortadas suas cabeças desgrenhadas, em minhas altas fortalezas ordenarei sejam penduradas, onde a águia e o milano, com suas garras como o ferro, não deixem rastro de um cão desse exército cristão.
E essa Cruz tão altaneira, falsa, enganosa e mentirosa, a olharás convertida em mastro de minha bandeira.
O que eu disse? Loucura foi elevá-la a tal destino: a queimo... e teu Deus divino que a tire da fogueira.
São Fernando: Maldito sejas, agareno, maldita a tua raça moura e maldito quanto adora esse povo sarraceno. Infame, blasfemo, vil, escória suja do inferno, aborto do mesmo inferno e venenoso réptil!
Já para ti não há perdão, africano mal nascido, que de meu peito ouviste a piedosa compaixão.
Guerra de morte, miserável! Guerra sem quartel, para ti e essa canalha asquerosa e desprezável; e extermínio, sangue e fogo, que façam de seus ídolos farrapos e reduzam a cinzas esse Alá que renego!
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Caravaca de la Cruz: confraria de cristãos. |
Só isto espero, traidor! Só isto espero, covarde! Tremes? Pois onde está tua gabolice de arrogância e valor? O que fizeste daqueles brios que mostravas belicoso quando humilde e silencioso escutei teus desvarios?
Que grande mentira revela esse rosto contorcido, de uma simples mulherzinha mais próprio que de um soldado.
Sultão: Cristão!
São Fernando: Não há um só minuto a perder. Escuta: quiseste luta? À luta, até morrer ou vencer.
Manda mouros aos milhões, traz teus estados inteiros, que um punhado de guerreiros basta para as tuas legiões.
Diz a Alá que te empreste luz, diz a ele que de sua altura desça e em minha presença ultraje a minha Santíssima Cruz!
Cruz bendita, Cruz gloriosa, Mãe do mundo cristão, vem e que o cão africano se cegue ao ver-te tão formosa.
Vem em minha ajuda, vem radiante de glória e preside a vitória dos filhos de teu Deus.
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Andor da relíquia da Cruz em Caravaca |
Vem a essa luta e goza, pois a pele desse agareno cobrirá o pó e a lama por onde tua carruagem passar.
Vem que teu filho está aqui, e terminando esta guerra não haverá um só lugar na Terra onde não se adore a Ti. À batalha agora mesmo!
Sultão: Mas se o prazo se dilatasse.
São Fernando: Encontrar-te-ei, ainda que te ocultasses no seio do abismo! Tua cabeça é minha ambição, dar-te morte, meu desejo, e cuspir em teu rosto feio, minha maior satisfação. Afasta-te mouro ímpio!
Sultão: Voltarei, cão cristão...
São Fernando: Não voltarás, africano, juro-o pelo meu Deus.
Sultão: Guerra de morte, cristão!
São Fernando: Guerra de morte, sarraceno!
Sultão: Viva nosso Alá agareno!
São Fernando: Viva nossa Cruz bendita!
Povo: VIVA!
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