Orações
Os 800 Mártires de Otranto
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Nossa Senhora na capela dos mártires, igreja de Santa Caterina a Formiello, Otranto |
Em 1480, a Itália celebrava a festa da Assunção com liturgias espetaculares, procissões e, claro, banquetes.
Com a exceção de Otranto, uma pequena cidade da Puglia, na costa do Adriático, onde 800 homens ofereceram suas vidas a Cristo.
Eles foram os Mártires de Otranto.
Poucas semanas antes, a frota turca atracara em Otranto. Sua chegada era temida há muitos anos.
Desde a queda de Constantinopla, em 1454, era apenas uma questão de tempo até que os turcos otomanos invadissem a Europa.
Otranto está mais próxima do lado leste do Adriático controlado pelos otomanos.
São Francisco de Paula reconheceu o perigo iminente para a cidade e seus cidadãos cristãos e pediu reforços para proteger Otranto.
Ele predisse: “Ó, cidadãos infelizes, quantos cadáveres vejo cobrindo as ruas? Quanto sangue cristão vejo entre vocês?”
A 28 de julho de 1480, 18.000 soldados turcos invadiram o porto de Otranto. Eles ofereceram condições de rendição aos cidadãos, na esperança de ganhar sem resistência este primeiro ponto de apoio na Itália e completar a conquista da costa adriática.
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Monumento aos heróis e muralhas de Otranto |
O sultão Mehmed II havia dito ao Papa Sisto IV que levaria seu cavalo para comer sobre o túmulo de São Pedro.
O Papa Sisto, reconhecendo a gravidade da ameaça, exclamou: “pessoas da Itália, se quiserem continuar se chamando de cristãos, defendam-se!”
Apesar de suas advertências terem-se esquecido nos ouvidos da maioria das cabeças coroadas da península –estavam muito ocupadas brigando entre si– o povo de Otranto escutou.
Pescadores, não soldados; eles não tinham artilharia. Eram menos de 15 mil, incluindo mulheres, crianças e idosos. Mas, por comum acordo, eles decidiram guardar a cidade, lançando-se ao combate das forças turcas.
A sofisticada artilharia turca danificava as muralhas de defesa, mas os cidadãos consertavam rapidamente os estragos.
Detrás dos muros, os turcos encontraram cidadãos impávidos, determinados a defender as muralhas com óleo fervendo, sem armas, e às vezes usando as próprias mãos.
Os cidadãos de Otranto frustraram o plano do Sultão de um ataque surpresa e deram à Itália duas semanas de tempo precioso para organizar e preparar suas defesas para repelir os invasores. Mas a 11 de agosto os turcos venceram os muros e açoitaram a cidade.
O exército turco foi de casa em casa, promovendo saques, pilhagens e, em seguida, ateando fogo. Os poucos sobreviventes refugiaram-se na catedral.
O arcebispo Stefano, heroicamente calmo, distribuiu a Eucaristia e sentou-se entre as mulheres e crianças de Otranto, enquanto um frade dominicano conduzia os fiéis em oração.
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Capela com as relíquias dos 813 mártires na igreja de Santa Caterina a Formiello, Otranto |
O exército de invasores arrombou a porta da catedral e a posterior violência contra mulheres, crianças e o arcebispo –que foi decapitado no altar– chocou a península italiana.
Os turcos tinham tomado a cidade, destruído casas, escravizado o povo e transformado a catedral em mesquita.
Cerca de 14.000 pessoas morreram na tomada de Otranto, na maior parte seus próprios cidadãos, mas um pequeno grupo de 800 sobrevivera, então os turcos tentaram o domínio completo, forçando a conversão.
A opção era o Islã ou a morte. Oito centenas de homens, acorrentados, sem casa e família, pareciam totalmente subjugados aos turcos vitoriosos.
Um dos 800, um trabalhador têxtil chamado Antonio Primaldo Pezzula, passou de artesão humilde a líder heróico nesse dia.
Antonio voltou-se para seus companheiros de Otranto e declarou: “Vocês ouviram o que vai custar salvar o que resta de nossas vidas! Meus irmãos, lutamos para salvar nossa cidade, agora é tempo de lutar por nossas almas!”
Os 800 homens com idades acima dos 15, de forma unânime, decidiram seguir o exemplo de Antonio e ofereceram suas vidas a Cristo.
Os turcos, que esperavam por um momento de propaganda triunfante, tentaram evitar o massacre. Eles ofereceram o retorno das mulheres e crianças que estavam prestes a ser vendidas como escravos, em troca da conversão dos homens, e eles ameaçaram com a decapitação em massa se isso não fosse aceito. Antonio recusou, seguido pelo resto dos homens.
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Altar representando o martírio e o milagre, Santa Caterina a Formiello |
Na vigília da Assunção, os 800 foram levados para fora da cidade e decapitados. A tradição conta que
Antonio Pezzula foi decapitado em primeiro lugar, mas seu corpo sem cabeça permaneceu de pé até que o último otrantino estivesse morto.Um dos carrascos, um turco chamado Barlabei, ficou tão impressionado com esse prodígio que se converteu ao cristianismo, e também foi martirizado.
Os restos foram cuidadosamente recolhidos, e são mantidos até hoje na Catedral de Otranto. No aniversário de 500 anos de sacrifício dos otrantinos, o Papa João Paulo II visitou a cidade e prestou homenagem aos mártires.
Bento XVI reconheceu oficialmente o martírio em 2007, trazendo Antonio Pezzula e seus companheiros um passo mais perto da canonização.
Esta “hora dos leigos” em Otranto, separados de nós por meio milênio, ainda ressoa como exemplo de testemunho do amor a Cristo.
Poucos de nós serão chamados ao mesmo sacrifício de Antonio Pezzuli e seus companheiros, mas como poderíamos responder a sua exortação: “Permanecei fortes e constantes na fé: com esta morte temporal nós ganharemos a vida eterna”.
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Professora Elizabeth Lev |
(Autor: Dra. Elizabeth Lev, professora de Arte e Arquitetura Cristã no campus italiano da Universidade de Duquesne, de Pittsburgh, EUA e da Universidade São Tomás, de Saint Paul, Minnesota, EUA. Apud ZENIT)
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