Orações
O milagre de Tolbiac e a conversão da França
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A battalha de Tolbiac Vitral da catedral de Laon |
No ano 496, Clóvis I, rei dos Francos, devia enfrentar uma confederação de tribos dos alamanos dirigidos não se sabe ao certo por quem.
Antes mesmo da guerra, Clóvis foi visitar o túmulo de São Martinho de Tours, onde fez a promessa de que se faria católico se ganhasse a guerra.
O local da batalha é conhecido como “Tolbiac”, ou “Tulpiacum”, nome que se refere mais provavelmente a Zülpich, na Renânia do Norte – Vestefália, Alemanha.
Pouco se sabe do desenvolvimento da batalha, salvo que Clóvis viu seus guerreiros caírem um depois do outro e a derrota cada vez mais próxima.
No momento da degringolada geral, em prantos e com o remorso no coração, o rei bradou ao Deus de sua mulher, Santa Clotilde.
São Gregório, Bispo de Tours (538 – 594) e o maior historiador daquela época, registrou da seguinte forma a oração de Clóvis no capítulo II, 30-31, de sua
História dos Francos:
“Ó Jesus Cristo, Vós que Clotilde me disse serdes filho do Deus Vivo, Vós que enviais vosso auxílio àqueles que estão em perigo, e concedeis a vitória aos que confiam em Vós, eu procuro a glorificação de vossa devoção com vossa assistência: se Vós me concederdes a vitória sobre estes inimigos, e se eu experimentar os milagres que o povo que cultua vosso nome diz ter acontecido, Eu crerei em Vós, e eu serei batizado em vosso nome.
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Clóvis no desespero invoca o Deus de Santa Clotilde Paul-Joseph Blanc (1846-1904), Panteon, Paris |
“Mais ainda, eu invoquei meus deuses, e estou vendo que eles falharam na hora de me ajudar, fato que me faz acreditar que eles não têm poderes, que eles não vêm em ajuda daqueles que os servem. É a Vós que brado novamente, eu quero acreditar em Vós, mas só se eu for salvo de meus adversários.”
Tendo dito estas palavras, os alamanos começaram a fugir. E quando viram seu chefe cair morto, submeteram-se a Clóvis, dizendo:
“Não permitais que o povo siga morrendo, nos vos rogamos; nós agora somos vossos”. Clóvis mandou parar o combate e exortou os derrotados a se retirarem em paz e disse à rainha que ele teve o mérito de obter a vitória invocando o nome de Cristo. Isto aconteceu no ano décimo quinto de seu reinado”.
São Gregório de Tours foi o primeiro a descrever esta batalha, fazendo um paralelismo direto com a conversão do imperador romano Constantino, o Grande, antes da batalha de Ponte Mílvia (312).
O santo historiador acrescenta que a rainha consultou São Remígio, Bispo de Reims, para ir ver Clóvis secretamente e apressá-lo a entrar no reino da salvação. E o bispo foi secretamente e começou a instá-lo a acreditar no Deus verdadeiro, criador do Céu e da Terra, e a deixar de adorar ídolos incapazes de se ajudarem a eles próprios, e tanto menos aos outros.
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O batismo de Clóvis, por São Remígio, Reims, França |
Porém, o rei respondeu: “Eu vos ouço comprazido, santíssimo padre; mas fica uma coisa: o povo que me segue não consegue abandonar seus deuses; mas eu irei até eles e falarei, transmitindo vossas palavras”.
Clóvis reuniu-se com seus seguidores, porém antes que ele conseguisse falar, o poder de Deus se antecipou e todo o povo bradava conjuntamente: “Ó piedoso rei, nós rejeitamos nossos deuses mortais, e nós estamos prontos a seguir o Deus imortal que prega Remígio”.
Isto foi relatado ao bispo, que ficou grandemente regozijado e mandou preparar a pia batismal. As praças ficaram recobertas com toldos feitos de tapeçarias, as igrejas foram adornadas com cortinas brancas, o batistério foi ordenadamente arranjado, o aroma do incenso se espraiava, as velas odoríferas ardiam brilhantemente, e todo o prédio do batistério ficou cheio de uma fragrância divina; e o Senhor concedeu uma tal graça aos que ali estavam, que eles começaram a achar que se encontravam em meio aos perfumes do paraíso. E o rei foi o primeiro a pedir para ser batizado pelo bispo. Foi assim que um novo Constantino se aproximou da pia batismal”.
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Santa Clotilde |
Clóvis – ou
Chlodovechus em latim – foi o primeiro rei dos Francos, pois conseguiu a obediência de todas as tribos francas.
Fundador da dinastia merovíngia, que reinou durante duas décadas, ele inaugurou a história da França na pia batismal.
Quando jovem, Clóvis chegou a ser comandante da província militar romana
Belgica Secunda.
Porém, ele se voltou contra os chefes romanos, e na batalha de Soissons (486) pôs fim ao domínio do Império Romano fora da Itália.
Posteriormente derrotou os turíngios, aliou-se aos ostrogodos, e após vencer os alamanos, instalou sua capital em Paris, onde fundou a abadia dedicada aos Santos Pedro e Paulo, no Quartier Latin.
Guerreou depois contra o reino dos borguinhões, derrotou os visigodos, expulsando-os para sempre da Gália, e conquistou a Aquitânia.
Ele codificou a lei sálica franca incluindo grandes partes do Direito Romano, pelo que o código ficou conhecido como “Código Romano”.
Clóvis e sua mulher Santa Clotilde foram enterrados na Abadia de Santa Genoveva, em Paris.
Posteriormente os restos dos dois foram transferidos para a Abadia de Saint-Denis, túmulo dos reis da França, onde hoje repousam.
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